Texto originalmente publicado em 3 de novembro de 2010. Alterado em 16 de julho de 2018, escrito por Bruno Marinho de Sousa.
O que é assimetria cerebral? Uma introdução ao assunto
Neste texto abordarei um assunto que ficou em voga há um tempo. A assimetria cerebral refere-se às diferentes capacidades que cada hemisfério cerebral possui para processar a informação que chega até nós, através dos nossos órgãos dos sentidos (olhos, pele, ouvidos, etc.). Como você deve saber, temos um cérebro que é dividido em duas partes, hemisfério esquerdo e direito. Anatomicamente eles são muito similares, mas funcionalmente eles possuem capacidades diferenciadas.

Provavelmente você já deve ter ouvido/lido que o hemisfério direito é mais criativo, enquanto o esquerdo, mais matemático. Algumas pessoas até atribuem estas diferenças hemisféricas a traços de personalidade, por exemplo, alegam que a pessoa é mais “hemisfério esquerdo” (menos emotiva ou “racional demais”). Iremos abordar melhor este assunto em outros textos (leia mais aqui: blogPercepto).
Mas de onde veio a assimetria cerebral? Quem a descobriu?
Um dos primeiros relatos consistentes sobre a relação entre hemisfério cerebral e função hemisférica veio de um médico francês chamado Marc Dax (1771-1837). Ele percebeu que vários de seus pacientes com lesões no lado esquerdo da cabeça apresentavam problemas de fala. Entretanto o mesmo não ocorria quando as lesões eram do lado direito. Apresentou seus dados e observações num congresso médico, mas elas foram ignoradas porque na época o pensamento vigente sobre o funcionamento do cérebro era baseado na frenologia.

Não demorou muito, outro francês Paul Broca (1824-1880) novamente levantou a questão da relação entre lesão no hemisfério esquerdo e problemas na fala decorrentes disto. Inclusive chegou a especificar uma área para a fala, que mais tarde recebeu seu nome em sua homenagem, a área de Broca responsável pela produção da fala, que na maioria de nós fica do lado esquerdo, logo acima da orelha esquerda.
Desta vez esta relação não passou em branco, tanto por Broca ser um pesquisador eminente, quanto pelo debate acalorado que ocorria no campo científico na época. Vários estudos subsequentes confirmaram estas evidências e ampliaram o conhecimento sobre a questão.
Devido a evidente sequela comportamental que lesões em certas regiões do hemisfério esquerdo (áreas de Broca e Wernicke, por exemplo) causam na fala – não tendo um correlato similar no hemisfério direito – o esquerdo passou a ser chamado de “dominante” por muitos anos, enquanto o direito era considerado inferior. Porém, atualmente esta ideia de dominância não mais reflete as verdadeiras funções dos nossos hemisférios. De forma geral, podemos dizer que o nosso hemisfério esquerdo é envolvido em vários aspectos da linguagem, desde a sua produção até a compreensão, e por outro lado, o direito é responsável em grande parte pelas relações espaciais no ambiente.
Então, agora quando você souber de alguém que teve um derrame, você já pode descobrir com grande chance de acerto, em qual lado do cérebro isto ocorreu. Se a pessoa tiver problemas de fala provavelmente foi no hemisfério esquerdo. Mas e se for no hemisfério direito?
Até mais e continue acompanhando o blog!
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Mais sobre o assunto:
- Cérebro esquerdo, cérebro direito. Sally P. Springer & Georg Deutsch. (Tradução: Thomaz Yoshiura), São Paulo: Summus, 1998. (Este é um livro bem acessível em sua linguagem e fácil de ser encontrado em sebos).
- Leia o Apêndice da minha Tese: Assimetria cerebral funcional e sua relação com a excentricidade no campo visual nos tamanhos percebidos em fundos sem e com gradiente de textura, disponível em Teses USP.
- Sobre Frenologia – Frenologia: A História da Localização Cerebral, no site: CerebroMente

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