Bruno Marinho de Sousa
Ir ao psicólogo pela primeira vez pode dar ansiedade e medo?
Imagine que você vai viajar, mas não sabe o roteiro, por onde vai passar, como exatamente é o lugar que vai chegar. Fazer psicoterapia é, em algum nível, parecido.
Você tem um destino em mente: sentir-se melhor, entender o que está acontecendo consigo mesma (o), mas não sabe como vai ser o caminho. E muita gente se sente perdido, ansiosa (o) e até com medo da primeira vez com um (a) psicólogo (a).

É comum surgir ansiedade: “Será que vou ser julgado? Será que vou saber falar o que sinto? E se eu chorar?”. Essas dúvidas são absolutamente normais. O objetivo deste texto é justamente desmistificar a primeira sessão, para que você chegue ao consultório sabendo o que esperar.
Eu mesmo (sendo psicólogo formado e tudo) quando fui para a minha primeira sessão fiquei com receio: “será que vou saber explicar o que está acontecendo comigo? Não vai parecer frescura?“
Existe diferença entre entrevista inicial e primeira sessão?
Sim. Muitos profissionais começam o processo terapêutico com uma entrevista inicial (também chamada de avaliação ou triagem). Essa etapa funciona como uma “porta de entrada”: o psicólogo coleta informações básicas sobre a história de vida, queixas principais, expectativas e até sobre saúde física e uso de medicamentos.
O objetivo pode ser diverso, como: entender se é capaz de atender o caso, já fazer alguma orientação (como buscar atendimento com psiquiatra), trabalhar expectativas.
Essa entrevista não é ainda uma “sessão de terapia” no sentido tradicional. É mais um mapa do terreno, para que o profissional compreenda quem você é e o que te levou a procurar ajuda.
Já a primeira sessão de psicoterapia, no sentido clínico, começa quando se estabelecem alguns objetivos, contrato terapêutico (frequência, horários, valores, sigilo) e se inicia o trabalho sobre as demandas apresentadas.
O que acontece na prática?
Nas abordagens que conheço, como a Terapia Cognitivo-Comportamental e a Terapia Comportamental, na primeira sessão o psicólogo geralmente:
- Explica como funciona a terapia (método utilizado, duração das sessões, frequência).
- Apresenta as regras do contrato terapêutico: sigilo, ética profissional e limites do trabalho.
- Escuta suas queixas iniciais e como elas impactam sua vida.
- Pode fazer perguntas direcionadas para entender melhor sua história familiar, social, acadêmica ou profissional.
- Em alguns casos, aplica questionários ou escalas psicológicas para complementar a avaliação.
A terapia é um processo de construção, não uma receita imediata. Então ela vai levar um tempo para ter efeito.
E já te aviso: geralmente a primeira sessão é bem ruim porque parece que não vai resolver muita coisa. Vai parecer que falou, falou e não saiu com resposta alguma sobre seu problema.

E se eu não souber o que dizer?
A coisa mais comum é a pessoa chegar no primeiro encontro e não ter ideia alguma por onde começar a falar:“Eu não sei por onde começar”. Isso é normal, você não vai ser nem a primeira e nem a última a pensar ou fazer isso. A nossa função de psicólogo é justamente te ajudar a organizar suas ideias, sua narrativa, fazendo perguntas abertas e tentando deixar você segura (o) para se expressar.
Vale lembrar que não existe “certo ou errado” no que se fala. O que importa é que seja verdadeiro para você naquele momento.
E fique tranquila (o): sabemos que não vão contar tudo para a gente, afinal, não nos conhecem ainda…
Emoções fazem parte da primeira sessão
É comum chorar, sentir nervosismo ou até ficar em silêncio. Isso não é sinal de fraqueza, birra, medo, mas de que você está se permitindo entrar em contato com suas emoções. Como descreve o DSM-5-TR, falar sobre sofrimento psicológico costuma vir acompanhado de sinais físicos (tensão, alteração no tom de voz, choro), e o psicólogo está preparado para acolher e entender isso sem julgamentos. Lembre-se trabalhamos com isso todos os dias, somos treinados para entender isso.
O que esperar depois da primeira sessão?
- Sentir confiança no (a) psicólogo (a) que te atendeu.
- Se sentir acolhido (a) nesse primeiro contato, mesmo sem ter entendido como vai ser o trabalho (isso acontece com o tempo).
- Dependendo da abordagem, o (a) psicólogo (a) pode propor um plano inicial de trabalho: por exemplo, entender melhor os padrões de pensamento, trabalhar estratégias de enfrentamento ou iniciar psicoeducação sobre ansiedade e estresse.
- Em algumas abordagens, como a TCC, o profissional já pode sugerir uma atividade prática (um registro de pensamentos, por exemplo).
- Em outras, pode priorizar a escuta livre e o fortalecimento da relação terapêutica.
O mais importante é você sentir confiança e ter um bom vínculo com o (a) psicólogo (a). Na verdade o vínculo psicoterapêutico é fundamental, já que se você não se sentir confortável com quem te atender, você não vai conseguir falar de seus problemas e daí já deu pra entender…
Se vai ter sua primeira sessão…
A primeira sessão de psicoterapia não é um tribunal, mas o início de uma parceria de trabalho. Você traz sua demanda, o psicólogo traz seu conhecimento técnico, e juntos vamos construir um caminho para enfrentar dificuldades e promover mudanças significativas em sua vida. Tudo de acordo com seus valores pessoais, seus propósitos de vida.
Seja entrevista inicial ou primeira sessão, o mais importante é lembrar que esse espaço é seu: seguro, confidencial e livre de julgamentos.
