Bruno Marinho de Sousa
O horário de verão foi incorporado no Brasil pelo nosso então presidente Getúlio Vargas. Ele copiou a ideia dos Estados Unidos em 1931. Mas a população não gostou e nem se adaptou, sendo suspensa até 1949. E não deveria ter voltado (sim, vou falar mal do horário de verão…). Mas desde 1985 ele vem sendo implementado regularmente.
O objetivo do horário de verão, especificamente a partir de 2002, foi economizar energia devido aos apagões. Mas isso não deu certo. Um estudo do Ministério de Minas e Energia apontou que ele não resulta em mais economia de energia. Mas ajuda a diminuir o consumo no horário de pico.
“Se não adotássemos mais o horário de verão, isso não seria um problema para o setor elétrico.” (Luiz Eduardo Barata, diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico – NOS, em 2017) (Fonte: Economia Uol).
Então qual o sentido de se ter e manter o horário de verão? Segundo o diretor-geral do ONS é que ele “traz ganhos inegáveis para o setor de turismo e para a população”. Será mesmo?
Vamos a um pouco de ciência
A Cronobiologia é um ramo da ciência que estuda o “relógio biológico”. Com o passar do dia altera o nosso organismo (hormônios, funções cognitivas, desempenho e etc.). Por exemplo, temos um ciclo circadiano, que é um ciclo de cerca de 25,2h em que nosso organismo conta “um dia”. Após isso ele entraria num novo ciclo.
Outra coisa que a cronobiologia pode estudar é o impacto do horário de verão no nosso organismo. A alteração ocasionada pelo horário de verão nos impõe uma adaptação. Isso aumenta nosso estresse e, segundo alguns especialistas, leva de uma a duas semanas para ocorrer.
Um estudo realizado na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) apresenta dados interessantes. A alteração para o horário de verão pode alterar nosso organismo e aumentar em até 8,5% o número de mortes por infarto do miocárdio, bem como as internações por diabetes mellitus. É muita gente.

Durante esse período de adaptação podemos alterar nosso padrão de sono. E dormir mal prejudica nosso nível de atenção e concentração, alterações de humor e até acidentes e incidentes no trabalho. Isso pode gerar prejuízos pessoais para os funcionários e financeiros para as empresas.
“Essa desatenção pode gerar retrabalhos, demora para conclusão de tarefas simples, diminuição da produtividade e pode acarretar até mesmo em acidentes no seu ambiente de trabalho” (Patrícia Montalvo Moraes, médica do trabalho.
Outro estudo mostra que 54,57% das pessoas apresentam algum desconforto com o horário de verão. E 25% sofrem durante todo seu período de vigência (eu me incluo aqui). No Brasil os estudos ainda são poucos, mas nos EUA, o número de acidentes no trânsito aumenta 8% no dia seguinte ao início do horário de verão.
No verão já temos mais iluminação do Sol, demora a anoitecer. Aqui no interior de Goiás o anoitecer pode chegar por volta das 20:30h/21h (19:30h/20h sem o horário de verão). Isso já permitiria aproveitar mais o dia, pensando na justifica do diretor da ONS sobre incentivar o turismo. Mais exposição ao Sol pode acarretar essa alteração no nosso ciclo circadiano, além de nos expor ainda mais ao Sol. Hoje somo o país com maior incidência de câncer de pele no mundo.
Voltando ao início do texto, o horário de verão veio importado, não foi uma necessidade do Brasil. Nem de sua população. Na Europa há um movimento para acabar com essas alterações criadas politicamente.
O presidente da Comissão Europeia, Jean Claude Juncker, levantou uma proposta de acabar com horário de verão/inverno no bloco europeu (fonte). 84% dos europeus querem acabar com essas mudanças de horário. Por lá a ideia é manter apenas um, no caso, o horário de verão deles. Por enquanto aqui parece que vamos continuar importando isso…
Leia mais:
- A Cronobiologia e os ritmos do homem, no site da Revista Superinteressante.
- Cronotipos e Cronobiologia, no blog da Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento – SBNeC.
- Self-reported discomfort associated with Daylight Saving Time in Brazilian tropical and subtropical zones, de autores brasileiros e publicado em 2017 na revista Annals of Human Biology.