Bruno Marinho de Sousa
Dica #12: SEJA UM ASTRONAUTA OU CIENTISTA POLAR!
Quais lições astronautas, cientistas polares e os psicólogos que estudaram e treinaram essas pessoas podem nos dar? Essas pessoas precisam conviver com desafios psicológicos e sociais causados pelo isolamento o tempo todo. E como cada pessoa reage a essa situação tem implicação em sua saúde mental.
Aqui não vamos levar em conta a questão financeira. As pessoas que trabalham como astronautas e cientistas polares já tem seu salário garantido. Então se dinheiro é problema para você, leia a Dica #3 – Educação Financeira (lá tem dica para quem ganha pouco).
A quarentena e o isolamento social pegou todo mundo de surpresa em dois aspectos: evitar sair de casa e, principalmente, ter que conviver com as pessoas que moram conosco. Vamos fazer umas contas simples: o dia tem 24h, no geral dormimos entre 6 a 8 horas por dia, trabalhamos 8 horas em média. Já foram 16horas, sobram mais 8h para higiene, exercício, transporte, jantar… Então na verdade convivemos com as pessoas da nossa casa por apenas umas 4 a 6 horas em tempo integral.
Agora com a quarentena todo mundo está sendo obrigado a conviver diretamente com essas mesmas pessoas por muito mais tempo, mais de 14h por dia (tirando a parte de dormir e higiene). Os pais não estão aguentando os filhos, os filhos não estão aguentando os pais, marido não aguenta esposa, esposa não aguenta mais o marido… Então qualquer mudança no comportamento do outro a pessoa percebe.
Os motivos para isso são vários: o simples fato de conviver em um espaço restrito por muito tempo já faz isso. Mas o estresse é o grande vilão. O estresse do convívio forçado, da preocupação com dinheiro, com a bagunça dos filhos, das reclamações (todos nós somos reclamões), da política (isola, não isola, tem cura, não tem, é só uma gripezinha, não é, e por aí vai).
O isolamento pode ser muito grave. Nas grandes expedições do passado há relatos de motins, suicídios, brigas, assassinatos e até canibalismo!
Os principais sintomas relatados pelos cientistas que estudam os astronautas, cientistas polares e grupos que precisam se isolar (como os da possível viagem a Marte):
- Depressão,
- Irritabilidade,
- Distúrbios do sono,
- Dores de cabeça,
- Tensão,
- Mudança de apetite (podendo ganhar peso),
- Falta de motivação,
- Tédio e fadiga,
- Falta de higiene,
- Conflitos pessoais.
Um dos sintomas que pode passar despercebido é uma espécie de inércia intelectual. Isso prejudica o desempenho cognitivo, gerando dificuldade para lembrar-se das coisas, completar atividades, iniciar as obrigações diárias. Por mais paradoxal que pareça, é seu cérebro querendo te ajudar.
Por que o desempenho cognitivo fica prejudicado?
Simples, nosso cérebro está sem estimulação e estamos estressado. Então ele se protege, nos deixando mais letárgicos, com mais sono. Lembre-se, nosso cérebro sem fazer muita coisa já gasta 20% da energia do nosso corpo… O cérebro está apenas economizando energia.
Claro que os astronautas e cientistas não passam necessariamente pelo que estamos passando. A principal diferença é que eles escolheram passar pelo isolamento e, ainda, foram avisados pelo que passariam e receberam treinamento para isso. E também não tem que se preocupar com as contas ou comida. Está tudo arrumado nesse quesito.
Mas o que os estudos mostraram que os ajuda?
- Exercício físico,
- Escrever (não é ficar postando coisa em rede social ou aplicativo de mensagem),
- Ter um pequeno espaço para se isolar,
- Respeitar o espaço das outras pessoas,
- Tolerância,
- Dialogar (talvez o mais difícil),
- Fazer coisas juntos (almoçar, jantar),
- Celebrar pequenas coisas,
- Combater o tédio (pode ser com TV, por exemplo),
- Usar o humor,
- Valorizar os sentimentos positivos.
Aplicação prática:
“O importante é focar no presente e tentar não parar em um futuro incerto. Concentre-se nas coisas que você pode controlar, não no que não pode. A ansiedade pode ficar fora de controle se você passar o dia todo se preocupando com o futuro” (Emma Barrett, professora da Universidade de Manchester. Fonte: El País).
Eu já havia recomendado na Dica #1 – TENHA ROTINA, que é importante para o cérebro ter uma certa previsão de como será o dia nesse período. Até coloquei uma lista como exemplo. Espero que esteja fazendo isso. Agora é a vez de acrescentar na rotina as dicas dos astronautas e cientistas polares!
Em cada dia seu, tenha pelo menos uma atividade de cada da lista:
- Exercício (alongar-se já pode ser ótimo),
- Tire um tempo para você (5 minutos que seja),
- Ajude seu parceiro, ou sua parceira, seus pais, irmãos, amigos, a fazer algo (almoço, limpar a casa, etc.),
- Converse, ou faça algo agradável com quem vive com você,
- Use a empatia – se tiver difícil, apenas escute calado (a),
- Escreva o que sente,
- Analise seu humor (se quiser, use esse aplicativo: Daylio). Se tiver dois dias seguidos de humor ruim, pense no que está incomodando e mude isso em você.
Leia outras dicas:
Leia mais:
- Ideia para o texto: ¿Le cuesta pensar y no para de comer? Astronautas y científicos polares saben cómo lidiar con el aislamiento, indicação do professor Dr. Leonardo Gomes Bernardino.
- Smith, N., Keatley, D., Sandal, G. M., Kjaegaard, A., Stoten, O., Facer-Childs, J., & Barrett, E. (2020). Relations between daily events, coping strategies and health during a British Army ski expedition across Antarctica. Environment & Behavior.
- Smith, N., Sandal, G. M., Suedfeld, P., Johnson, P., Brcic, J., & Barrett, E. (2019). A systematic review of personal values research in isolated, confined and extreme environments. In International Astronautical Congress 2019 Conference Proceeding .
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